O novo XJ da Jaguar jogou fora todo e qualquer vestígio do icônico XJ do passado. Mas será que esta nova geração é um Jaaaag de verdade? Andei bastante com o XJL atual para descobrir se um rico esnobe o desejaria mais que uma dose de conhaque e um bom charuto.
Imagine um cirurgião plástico divorciado de meia-idade, vestindo um paletó de lã fria. Talvez ele esteja fumando um cachimbo (ainda que seja ruim para os dentes) e falando sobre uma partida de pólo. Que carro ele dirige? Um Jaguar XJ – o modelo antigo, com os faróis duplos. É uma daquelas imagens difíceis de remover da imaginação.
Por muitos anos o antigo desenho do XJ foi um ícone, mas ao longo das última duas décadas ele se tornou antiquado. Você pode amar ou odiar, mas o BMW Série 7 E65 (e sua traseira polêmica) tiveram uma profunda influência sobre o design de todos os carros de luxo. E enquanto os fabricantes de carros de luxo evoluiram, o estilo clássico do Jag parecia esquecido nos anos 60.
Até que em 2010 a Jaguar apareceu com um XJ totalmente modernizado. As linhas esculpidas e o teto declinado na traseira formam um dos melhores trabalhos do designer Ian Callum. É uma ruptura significativa, sem nenhuma conexão visual óbvia com o passado. Mas será isso suficiente para tirar do XJ a imagem de ser um carro para homens de meia-idade? Vamos descobrir.
Por fora
Em uma geração, o XJ deixou de ser um cartaz da velha Inglaterra para se tornar um dos carros mais modernos das ruas. O estilo elegante da traseira do carro, com suas colunas C escurecidas e traseira truncada é muito atraente. E nem falo dos novos faróis. Não se parecem com nada que eu já tenha visto – e isso é muito bom.
Mas quando visto de perfil o XJL parece grande e quase desajeitado. Todos os macetes de Callum para tornar a frente e a traseira elegantes e estilosas desaparecem, e você depara com o enorme carro que o XJL é. Não dá pra esconder todo esse tamanho de um jeito elegante.
Por dentro
A cabine do Jaguar é um lugar absolutamente agradável de se estar. Nunca fui muito fã de acabamentos de madeira – especialmente no volante – mas por algum motivo ela funciona muito bem aqui, especialmente na forma como ela preenche o ambiente. Os bancos com ajuste de temperatura e massageadores são um lugar confortável para passar um bom tempo. E o seletor de marchas que emerge do console central é algo mágico de se ver. Em resumo, é como dirigir em uma sala de estar moderna em vez de um escritório vitoriano do século 19 como a geração anterior do XJ.
Como acelera
Com 1860 kg e carroceria de alumínio, o XLJ é até bem leve para sua categoria. E com 385 cv produzidos pelo V8 de cinco litros, é capaz de ganhar velocidade rapidamente sem perder o cavalheirismo. Ele não implora por mais potência nem parece ofegante, você apenas afunda o pé e a potência surge subitamente. Poderia ser mais veloz? Sem dúvida. Mas em um carro como esse não há necessidade de 500 cv e uma aceleração agressiva. Mas repito: não rejeitaria mais potência. Eu abraçaria a oportunidade de andar em uma das versões sobrealimentadas.
Como freia
Levei o XJ a uma pista de autocross e desli… ora, a quem estou enganando? Eu o dirigi na maior parte do tempo em rodovias e quando pisei no freio ele parou exatamente como eu queria, como eu esperava, como deveria. Só achei o pedal um pouco leve para o meu gosto.
Como roda
É aqui que o XJ mostra sua personalidade. É um dos carros mais confortáveis em que já viajei. Em vez daquela rodagem dura, forjada em Nürburgring, os amortecedores do XJ absorvem as imperfeições de um modo que faz a rodagem extremamente confortável sem deixar a direção boba nem anestesiar a comunicação do motorista com a pista. A 130 km/h o barulho do vento ou da rodagem é quase nenhum. A natureza relaxante da rodagem combinada com a pretensão ostensiva é exatamente o que você procura e espera de um Jag.
Ainda assim, sendo um entusiasta, procuro um carro que seja um pouco mais comunicativo e tenha uma rodagem mais firme. Eu abro mão da maciez sobre irregularidades da pista para saber o que está acontecendo lá fora, sob meu controle.
Também há o “Dynamic Mode”. Os instrumentos ficam vermelhos e o carro se ajusta para fornecer uma direção mais precisa e acelerador mais responsivo. Sinceramente, isso é algo desnecessário em um carro tão grande, e achei o modo indiferente, embora os instrumentos vermelhos sejam mais legais que os originais. Em quase todos os sedãs grandes que não sejam uma versão de alto desempenho – e não apenas o XJL – esse tipo de modo esportivo é totalmente desnecessário, e funciona mais como uma ferramenta de marketing.
Comportamento/Manejo
Eu não esperava muito de um carro tão grande, por isso acabei impressionado. Mesmo que seja britânico, não é o que você chamaria de Lotus Elise, mas em sua categoria ele se posiciona entre o Mercedes S500 e o BMW 750iL, e cria um nicho para quem quer um carro confortável que proporcione um mínimo de esportividade na condução. Há uma leve rolagem da carroceria quando você abusa dele nas curvas, e também há um evidente sub-esterço.
Transmissão
Embora seja uma automática tradicional, a transmissão do XJ é uma das melhores que já usei. Ela nunca fica caçando marchas, e se você resolver mudá-las por conta própria ela não interfere – a palavra final é sua. Mais incrível é que ela sobe o giro simulando um punta-tacco nas reduções de marchas quando o modo “Sport” está ativado.
Isso faz alguma diferença para a maioria do público da Jaguar? Certamente não, mas eu gostei muito. Também é possível usar outra marcha acima da sexta, pois a Jaguar usará uma caixa de oito marchas no modelo 2013.
Áudio
Em uma justaposição estranha, um carro de rodagem tão silenciosa como o XJ tem um ronco belíssimo quando acelerado forte. É profundo e gutural, com alguma aspereza sonora. É como eu imaginaria o timbre da voz de um filho de Tom Jones com Janis Joplin, se ele fosse um motor. Pisei fundo sempre que pude.
O sistema de som de série também é muito bom. Consegui ouvir música em volumes bem altos sem distorção.
Mimos
Em um mundo de câmeras de visão noturna e condução adaptativa, o XJ é surpreendentemente desprovido de alguns mimos obrigatórios nos carros de luxo. Ele tem bancos com controle de temperatura e massageadores, que são absolutamente fantásticos. Os instrumentos estão agrupados em um grande mostrador TFT, que pareceu muito bom e ainda pode ser personalizado. Mas depois de passear pelos menus fiquei um pouco desapontado por não poder ter uma tela de navegação permanente ou alterar os instrumentos. A tela é uma ótima ideia, mas algumas opções a mais seriam bem-vindas.
Valor
Em sua categoria o XJL é uma barganha. Seus concorrentes de chassi longo da Alemanha custam de 5% (Audi A8L) a 20% (Mercedes S550) mais caros. Claro, há o Hyundai Equus e o Lexus LS460, mas nenhum deles tem o visual e a classe do Jaaaagg.
Ele consegue se livrar da reputação de carro para cavalheiros conservadores? Definitivamente. Mas toda vez que avistei um XJ na rua, era guiado por um homem perto dos 50-60 anos. Isso talvez porque o visual moderno seja contrastante com a falta de apetrechos tecnológicos, bem como sua inabilidade para configurar eletrônicos modernos. Quando a Jag oferecer opcionais tecnológicos tão modernos quanto o visual do carro, o XJ será um forte concorrente em sua categoria.
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