No Brasil, os carro s da coreana Ssangyong são conhecidos principalmente pela estranheza de seu design. Seja por uma ousadia extrema, caso do Actyon, ou simplesmente pela desarmonia das linhas, como o Rexton. Não conquistaram muitos consumidores mas, quando o faziam, era mais pela relação custo/benfício do que pela beleza.
A parceria com a Mercedes-Benz, que autorizava o uso de motores antigos, também chamava a atenção. Entretanto, desde que beirou a falência e foi absorvida pela indiana Mahindra, depois da crise de 2008, a Ssangyong decidiu mudar. E a terceira geração do Korando é o que melhor marca essa nova fase.
A fórmula está funcionando bem no Brasil. Lançado por aqui em agosto do ano passado, o Korando começou a ir bem nas vendas em 2012 e já é o Ssangyong mais vendido no país. Nos seis primeiros meses do ano, foram 578 unidades vendidas, pouco menos que Toyota Rav4 ePeugeot 3008, mas ainda longe dos comPatriotas Kia Sportage e Hyundai iX35.
A concepção mecânica mais robusta é resultado da herança do Korando. A primeira geração do utilitário surgiu em 1983 com foco no “off-road”. O visual era semelhante ao de um jipe, inclusive com um “snorkel” para uso em superfícies alagadas.
Esta terceira geração já foi concebida sob a batuta da Mahindra. O nome se manteve – que na verdade é uma contração de “Korea can do”, inglês para “A Coreia é capaz de fazer” –, mas a inspiração nos comPatriotas é evidente.
O porte é ligeiramente menor – ele é 3 cm mais curto e 2 cm mais estreito que o Sportage, por exemplo –, mas a proposta é de um confortável utilitário urbano. A plataforma é em monobloco, pela primeira vez em um modelo da marca. E o design acompanhou essa nova urbanidade.
Faróis e grade formam um conjunto agressivo, enquanto frisos cromados no contorno da grade e na linha do para-choque emprestam algum requinte. O perfil é marcado principalmente pelos para-lamas pronunciados e pelo caimento acentuado do teto. Atrás estão as lanternas verticais, as saídas duplas de escape e mais detalhes cromados.
Algumas características “lameiras” do antigo Korando, porém, se mantiveram. No Brasil, a única versão vendida traz um motor 2.0 turbodiesel fabricado pela própria Ssangyong. Ele desenvolve 175 cv a 4 mil rpm e 36,7 kgfm entre 2 mil e 3 mil rotações aliado sempre a uma transmissão automática de seis velocidades.
A tração é integral sob demanda. O que significa que a força só é enviada às rodas traseiras quando o sistema percebe perda de aderência nas dianteiras. Para ajudar nas situações fora de estrada, existe a opção de travar o diferencial central, que divide a força do motor igualmente entre os dois eixos.
Em relação a equipamentos, falta um pouco de luxo ao Korando – principalmente na versão de entrada, a GL. Vendida a R$ 98.900, ela traz o básico, como ar-condicionado manual, direção elétrica, rádio, computador de bordo, airbag duplo e ABS. Na intermediária GLS, que custa R$ 110 mil, aparecem os bancos de couro, sistema de multimídia com tela sensível ao toque e o controle de estabilidade.
Apenas na topo, a Executive, o Korando recebe um teto solar e o banco do motorista com ajustes elétricos. Para isso, a Ssangyong cobra R$ 115 mil. Em nenhuma delas existem itens como sensores de estacionamento, chuva e luminosidade, ar digital ou retrovisor eletrocrômico, por exemplo.
No exterior, o Korando se vale muito de sua tradição. É o modelo sul-coreano em produção há mais tempo na história, com boa herança “off-road”. No Brasil, a aposta para superar a desconfiança de uma marca famosa por seus estranhos modelos é o custo/benefício. Mas que, evidentemente, se baseia também na capacidade fora-de-estrada que a conjunção de tração integral com motor a diesel propõe.
Ponto a ponto
Desempenho – É um dos destaques do utilitário coreano. O 2.0 turbodiesel tem comportamento acertado para um carro do porte do Korando. O torque é elevado e surge em uma faixa de rotação interessante. Basta atingir os 2 mil giros para a força máxima estar disponível. Para se ter noção, o zero a 100 km/h é feito em pouco menos de 11 segundos, uma boa marca para um veículo de 1.700 kg e com motor a diesel. A transmissão automática de seis marchas também mostra um trabalho honesto. Ela realiza trocas com velocidade e não costuma hesitar entre as marchas. Nota 8.
Estabilidade – O Korando se comporta bem de acordo com sua arquitetura. Isso significa que, em curvas fechadas, o centro de gravidade e o peso elevado criam uma tendência a sair de frente no limite. Outro ponto negativo é a ausência de controle de estabilidade na versão testada. Ao menos, a suspensão é bem calibrada, o que impede que a carroceria role muito, o que preserva a sensação geral de segurança. Além disso, quando as rodas dianteiras perdem aderência, o sistema de tração joga a força para o eixo traseiro, o que ajuda no controle. Nas retas, a direção elétrica se mostra pouco precisa. Em alguns momentos, são necessárias correções muito grandes no volante. Nota 6.
Interatividade – Não há mistérios para dirigir o Korando. Todos os comandos vitais são bem posicionados e intuitivos. A visibilidade é boa graças à altura do utilitário. Na hora de manobrar, a direção elétrica ajuda bastante por ser leve, mas faltam sensores de estacionamento. A opção de trocas manuais da transmissão é muito confusa. Os dois botões na alavanca são muito pequenos e as teclas no volante são posicionadas junto aos comandos do rádio, em lugar pouco usual. Nota 7.
Consumo – O Ssangyong Korando fez a razoável média de 9,6 km/l de diesel. Nota 7.
Conforto – A suspensão deixa o Korando um tanto “vivo” na cidade. Mesmo sendo um carromontado em monobloco e com suspensão traseira independente, o utilitário reage muito aos buracos, o que afeta o conforto. O isolamento acústico é decente quando as janelas estão fechadas. Além de não fazer muito barulho, o motor a diesel não transfere vibrações para o interior. Há bastante espaço na cabine. Os 2,65 metros de distância entre-eixos permitem que cinco adultos se acomodem sem grandes dificuldades. Nota 6.
Tecnologia – A terceira geração do Korando, lançada em 2010, trouxe diversas inovações. Além de ser o primeiro SUV da Ssangyong em monobloco, usa um motor próprio que se torna um dos destaques do modelo. Com funcionamento até suave, ele entrega ótimo torque já em rotações baixas. A transmissão também é eficiente e a distribuição de tração e o bloqueio de diferencial ocorre sem pertubar o motorista. Falta, no entanto, um controle de estabilidade, item mandatório em um carro com corpo de utilitário, mas que provavelmente será mais utilizado na cidade. Nota 8.
Habitalidade – O utilitário da Ssangyong tem um grande número de porta-trecos na cabine. Não é difícil achar lugares para colocar objetos de uso rápido. Mesmo sendo “altinho”, entrar e sair do Korando não é uma tarefa complicada. O porta-malas leva 486 litros, número que supera o da concorrência. Nota 8.
Acabamento – Apesar de não ser um destaque do carro, o acabamento interno do Korando não deixa a desejar em relação à maioria dos rivais diretos. Não que seja luxuoso, mas também não decepciona. Os materiais são rígidos em sua grande maioria, mas os encaixes são precisos. O volante é revestido de um couro e os bancos em tecido. Nota 7.
Design – É um dos maiores diferenciais do Korando – em relação até aos outros carros da própria marca. Desenhado pelo italiano Giorgetto Giugiaro, o visual é moderno com linhas retas e linha de cintura elevada. Diante de um segmento recheado de rivais com design inspirado, é um atributo importante. Nota 8.
Custo/benefício – Não falta nada de importante em termos de equipamento na versão de entrada. Mas também não tem grandes luxos. Só que em seu segmento, o Korando é o único que tem motor diesel. Além de ser mais econômico, dá maior força no off-road e tem maior durabilidade. E isso nem é repassado integralmente para a etiqueta de preço. Quando comparado aos rivais igualmente equipados a gasolina, o modelo da Ssangyong é apenas 10% mais caro – nessa faixa do mercado, essa diferença de motorização a gasolina para diesel implicaria um aumento de 30%. Nota 8.
Total – O Ssangyong Korando somou 73 pontos em 100 possíveis.
Impressões ao dirigir - Estranho no ninho
É preciso um certo esforço para associar o Korando à marca Ssangyong. Primeiro porque é visualmente bem resolvido. Diferentemente do restante da linha da marca coreana, agrada aos olhos e até chama a atenção na rua. A marca também ainda é desconhecida de grande parte do público, o que ajuda a aumentar a quantidade de curiosos ao redor do Korando.
A mesma coisa acontece no interior. A cabine não segue a estratégia adotada no exterior e tem linhas mais tradicionais, embora agradáveis. Os materiais também são honestos e os encaixes, precisos. Mesmo assim, existe uma ligeira impressão de falta de requinte. O rádio é simples demais – sistema de multimídia só está disponível a partir da configuração intermediária – e não existe sensores de luminosidade e de chuva.
Além disso, alguns comandos são mal localizados, caso do controle do computador de bordo, posicionado no console, lugar pouco comum. O botão que bloqueia o diferencial central fica escondido atrás do volante.O espaço do habitáculo é suficiente até para cinco adultos. Entretanto, como o cinto de segurança do assento central é abdominal, o mais indicado é levar uma criança ali. No porta-malas cabem 486 litros e os acessos são corretos.
Ao volante, o Korando se dá bem. O principal destaque é o motor 2.0 turbodiesel. Ele responde prontamente às pisadas do acelerador e dá boa agilidade para o utilitário de mais de 1.700 kg. O torque máximo de 36,7 kg disponível entre 2 mil e 3 mil rotações é mais que suficiente para um carro com a aplicação e proposta do Korando.
A transmissão automática de seis velocidades se entende com facilidade com o propulsor e fornece trocas rápidas e suaves. O escalonamento é correto e não há buracos no ganho de aceleração. A ideia da Ssangyong era que, se fosse necessário, as teclas manuais pudessem dar um toque mais esportivo ao modelo.
Existem dois botões na lateral da alavanca de marchas, como o que existe na ChevroletCaptiva, e outros dois na parte da frente do volante, jundo aos comandos do rádio. Ficam em posição pouco usual e confusa. Isso acaba exigindo uma certa intimidade com o modelo para se ter um uso mais intuitivo.
O rodar do Ssangyong é agradável. A suspensão traseira multilink tem ajuste um rígido, o que acaba fazendo com que o carro chacoalhe nos buracos, mas nada que incomode muito. Nas curvas, o modelo mantém a sua trajetória na maoria das vezes.
Quando o ímpeto é muito grande, a tração integral ajuda a segurar tudo no lugar. Entretanto, mesmo assim falta o controle de estabilidade. É comum os pneus cantarem e ocorrer um certo deslizamento durante uma condução mais esportiva.
Ficha técnica – Ssangyong Korando
Motor: A diesel, dianteiro, transversal, 1.998 cm³, com quatro cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro, turbocompressor com intercooler. Acelerador eletrônico e injeção do tipo Common Rail.
Transmissão: Câmbio automático com modo manual sequencial de seis marchas à frente e uma a ré. Tração integral sob demanda. Não oferece controle de tração.
Potência máxima: 175 cv a 4 mil rpm.
Torque máximo: 36,7 kgfm entre 2 mil e 3 mil rpm.
Diâmetro e curso: 86,2 mm X 85,6 mm. Taxa de compressão: 16,5:1.
Suspensão: Dianteira independente do tipo McPherson. Traseira independente do tipo multilink.
Pneus: 255/55 R18.
Freios: A discos sólidos nas quatro rodas. Oferece ABS.
carroceria: Utilitário esportivo em monobloco, com quatro portas e cinco lugares. Com 4,41 metros de comprimento, 1,83 m de largura, 1,71 m de altura e 2,65 m de distância entre-eixos. Oferece airbags frontais de série.
Peso: 1.747 kg.
Capacidade do porta-malas: 486 litros.
Tanque de combustível: 57 litros.
Produção: Pyungtaek, Coreia do Sul.
Lançamento mundial: 2010. Lançamento no Brasil: 2011.
Itens de série: Ar-condicionado manual, direção elétrica, rádio/CD/MP3/USB/Aux, cruise control, volante multifuncional, airbag duplo, ABS, trio elétrico e bloqueio do diferencial central.
Preço: R$ 98.900.
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