23 de mai. de 2012

Outra visão sobre o mercado automotivo brasileiro



Altos juros, altos impostos, influência do dólar, do euro e de muitos outros fatores no preço final e na hora da revenda. Design “atrasado” com relação aos modelos produzidos em outras partes do mundo. Veículos pouco equipados, pouco valorizados, que muitas vezes fazem-nos pensar que os que vivem no exterior riem de nós e de nossos carros. Pois bem, é assim que funciona, mas proponho outra visão de nosso mercado automotivo.
Para explicar melhor, começarei com um fato marcante que ocorreu no mundo dos negócios mais de um ano atrás. Fevereiro de 2011. Denise Johnson, americana com 25 anos de GM, deixa o cargo de presidente da General Motors do Brasil… e nem dois meses depois é anunciada sua sucessora.
O fato é que nem o Google, na mesma época, foi tão rápido para encontrar um importante diretor, o que na teoria seria mais fácil do que encontrar um presidente. Segundo algumas revistas de negócios, o suposto motivo da renuncia de Denise foi a pressão feita sobre ela, após a mesma querer mudar alguns projetos como o GSV, o que atrasaria o lançamento. É aqui que entra a questão que quero tratar: a pressa das fabricantes. A ordem é pensar rápido, e agir mais ainda.
Em meados de 2011, indo á Curitiba, passei pela frente da futura fábrica de motores daGM do Brasil, em Joinville. Fazendo pouco tempo que a sede da empresa havia liberado o início das obras, percebi o quanto já estava a todo vapor, com dezenas de máquinas e funcionários trabalhando. Muita organização?
Certamente sim, mas me fez pensar na pressa que algumas fabricantes têm para entrar, estabilizar-se e crescer no mercado brasileiro. A fábrica de Joinville é apenas um de muitos exemplos. Talvez até tenhamos carros muito caros, que não tenham a qualidade dos modelos europeus ou americanos, mas ninguém pode negar que estamos melhorando. E quem vê dessa forma parece estar se dando muito bem.
Sérgio Habib, por exemplo, certamente viu na JAC Motors, que chegou por aqui a pouco mais de um ano, uma oportunidade de ganhar o mercado de maneira inovadora e direta. E inaugurou 50 concessionárias da marca em um mesmo dia no Brasil, havendo uma semana depois mais de 100 pontos de distribuição. Investiu, de chegada, quase R$ 400 milhões para ter, até o final de 2011, três modelos a venda, e viu o compacto J3 sendo um dos mais procurados na categoria.
As chinesas estão buscando cada vez mais espaço em nosso país, e pra quem diz que JAC,Chery e companhia são de péssima qualidade, que deveriam ficar pela China e apenas em países pouco desenvolvidos, e tudo mais que se escuta sobre elas por aí. Gosto de lembrar que Kia e Hyundai eram a quinze anos o que as fabricantes chinesas são hoje.
Além disso, garanto que elas não escolheram o Brasil à toa, e o que não as falta é capacidade de ganhar mercado, seja pelo desenvolvimento de novas tecnologias, seja pela capacidade de empregar ótimas estratégias de marketing, envolvendo publicidades inovadoras e parcerias interessantes.
E não são somente as chinesas. Nunca modelos recém-lançados em países de primeiro mundo vieram parar por aqui tão rapidamente, desde os completamente novos como também os reestilizados, diga-se de passagem, as picapes S10 e Ranger, os hatchs CruzeSport6 e Peugeot 308, os sedans CivicElantra e Lancer, e por aí vai. A Nissan já testacarros elétricos nas ruas brasileiras.
Ford quer modificar mais da metade de sua linha de produtos até o fim de 2013, e o brasileiríssimo Ecosport vai se tornar mundial. Recentemente a GM divulgou, e o Notícias Automotivas inclusive publicou, os detalhes da fábrica de Joinville, que tende a ser um exemplo de sustentabilidade, mais uma tendência mundial. A BMW já praticamente garantiu sua fábrica no Brasil, e teremos dois superesportivos nacionais dentro de pouco tempo, se tudo der certo.
Há quem já esteja garantido e agora quer mais é saber de evoluir, ampliando unidades fabris, como a VW que recentemente anunciou a ampliação da produção da unidade de São Carlos. Há quem ainda queira se garantir, como a Saab que morreu quando estava perto de desembarcar por aqui, e a Mazda que quer voltar em 2013. Há quem já se garantiu e agora quer ver seus carros sendo fabricados em território nacional, e novamente cito JAC Motors e Chery.
O fato é que não se pode mais tratar o Brasil como aquele país que não quer nem necessita de produtos melhores. Falo a quem pensa que nossos produtos são e sempre serão lixo, algo que não concordo. Mas falo principalmente as montadoras, que fazem parcerias “por baixo do pano” com o governo e varrem a sujeira para baixo no tapete.
O fato é que temos tudo o que precisamos para ficarmos no nível de Estados Unidos e Europa, temos tudo para produzirmos superesportivos, carros de luxo e elétricos. Basta apoio, do consumidor, do governo, e principalmente das fabricantes. Pois evoluir sem pensar no consumidor é o mesmo que não sair do lugar.

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