24 de mai. de 2012

“Às vezes um pouco de percepção vale mais a pena do que um pouco de performance”



“Sometimes an ounce of perception is worth a pound of performance”. Traduzindo bem grosseiramente ao pé da letra, essa frase significa: “As vezes um pouco de percepção vale mais a pena do que um pouco de rendimento”. Eu li essa frase durante uma conversa em um fórum gringo de carros, assim como o Notícias Automotivas, que no contexto ela fez um sentido absurdo e dividiu a conversa entre dois lados bastante distintos.
Estavam discutindo a diferença entre o conceito moderno de carro  veloz e o conceito antigo, para dar “nome aos bois”, Bugatti Veyron vs. Mclaren F1 e Nissan GT-R vs. BMWM3 E46. Todos aqui tem seus preferidos e uma quantidade enorme de argumentos para tal escolha, mas tentem deixar um pouco o juízo de valor de lado para que entendam o motivo desse papo todo.
Eu sei que muitos odeiam o Veyron pela maioria de seus donos serem pessoas ricas sem gosto, habilidade ou conhecimento algum de carro, como também por ele não ter fama em pistas de corrida tradicionais como Nurburgring, no entanto, ele também carrega muitos fã-boys que gostam do carro simplesmente pelo fato dele ser “o mais rápido do mundo” ou por alcançar velocidades absurdas no final de seu câmbio, aquele papo de Super Trunfo mesmo.
Confesso que um tempo atrás eu odiava esse carro, só fui começar a entendê-lo quando por algum motivo me brotou a curiosidade de estudar a sua engenharia e a partir daí eu vi que era um carro diferente não só por seus números, mas pela ousadia como ele quebra conceitos antigos da engenharia automotiva.
Veyron não nasceu pra fazer rivalidade ou superar carros da MercedesMclaren ouFerrari, ele nasceu para superar os conceitos da física datados de 10 anos atrás. Quando aBugatti juntamente com a VW chegou a público dizendo que queria fazer um carro civil capaz de atingir mais de 400km/h, todos riram. Algumas concorrentes até chegaram a fazer chacota com tal declaração.
Como o próprio engenheiro do Veyron disse em uma entrevista anos atrás: “Nobody’s laughing now”, ou no bom português: “Ninguém está rindo agora”. Quando se estuda oBugatti, a primeira coisa que se nota é que cada centímetro do carro teve extensa engenharia aplicada para que tudo nele fosse perfeito e durasse mais do que qualquer outro veículo modificado para competir com o Veyron, tal como o Hennesey Venom e o SSC Aero.
Veyron nasceu como um carro de 400km/h que serve para o dia-a-dia e pode ser usado durante 10 ou 20 anos sem medo de não funcionar numa manhã de quarta-feira. Sua aerodinâmica foi feita para eliminar qualquer ruído ou vibração na velocidade máxima docarro, os freios e o aerofólio vem direto da engenharia aeronáutica, o câmbio foi desenvolvido por um ex-engenheiro da F1 que, segundo entrevistas, dizia que a caixa de marchas do Veyron foi um desafio muito maior do que ele já teve na categoria, pois deveria ser 10x mais resistente e com 100x mais durabilidade, pois não poderia quebrar após 5h de uso.
Os pneus foram outro fator cômico, a Michelin desenvolveu uma tecnologia 100% nova para aguentar o excesso de força e aderência que o carro cria em velocidades acima de 350km/h, embora seus “borrachudos” aguentem até 470km/h. Na indústria dos pneus, houve uma divisão entre engenharia pré-Veyron e engenharia pós-Veyron, tudo mudou após esse carro.
Muitos criticam o excesso de radiadores do carro, mas poucos sabem que a quantidade de calor provida pelo motor seria o bastante para abastecer energeticamente uma vila por uma semana, já que ele produz quase 3.000hp em energia térmica. É bastante, não? Houveram sim exageros no carro, pois seu próprio projeto deveria ser ousado do início ao fim, essa é a razão dele existir, definir a essência do que é ousadia na engenharia automotiva.
Essas são só 2/10 das curiosidades quanto a engenharia desse carro, recomendo a todos que pesquisem um pouco sobre ele, mas o intuito desse texto não é “babar ovo” para aBugatti ou criticar seus concorrentes. Eu poderia ficar falando por horas sobre detalhes e curiosidades da produção do Veyron como também do GT-R que citei no início do texto, falaria tanto que até iria parecer que fui contratado pelas duas montadoras pra fazer propaganda de seus carros, mas o grande motivo de estar trazendo esse assunto é levantar algumas questões referentes àquela frase que também citei no início do texto: qual é o melhor caminho para os carros esportivos e super-esportivos?
Eles precisam ser rápidos, fáceis e permitirem uma pessoa menos habilidosa guiar? Ou ocarro “sport” deva ser algo que exclusivamente traga sentimentos ao pilotar independente do quão rápido isso aconteça? Trazendo a questão do Veyron de volta ao texto, nesse quesito ele é totalmente diferente da Mclaren F1 e por tal motivo ambos não deveriam ser comparados sem um motivo perfeitamente estipulado, pois além de viverem em tempos diferentes, seus projetos e ideologias não combinam em nada.
F1 é um carro muito mais “vivo”, o piloto sente tudo o que está acontecendo com ocarro, diferente do Veyron que tem uma personalidade mais fria e exata. É como comparar dois ex-presidentes, Lula com o Bush, ambos tem o mesmo cargo mas são diferentes em praticamente tudo.
Segundo Kazutoshi MizUno, engenheiro chefe do GT-R, uma das ideias principais do projeto é que uma pessoa comum possa dirigir seu carro de forma rápida sem que isso comprometa a própria vida ou de sua família, assim como o Veyron permite uma pessoa corajosa chegar à 400km/h tranquilamente indo para o trabalho. Essa última parte nem tanto, mas você entendeu o que eu quis dizer.
Por outro lado, uma BMW M3 tem como principal compromisso o desafio que proporciona a seu motorista de levá-la ao limite, mesmo que isso talvez custe um parachoque ou um par de airbags estourados, assim como a Mclaren F1, a M3 está lado a lado com o piloto (em níveis diferentes, obviamente).
Atualmente existem duas vertentes bastante diferentes convivendo no mundo dos carrosesportivos, particularmente, o que eu mais gosto nisso tudo é que ambas existem sem atrapalhar a outra, dando a todos uma oportunidade de vivenciar um bom carro sem que precise passar 5 anos estudando pilotagem e fazendo cursos, mas ao mesmo tempo essecarro “amigável” também serve de diversão para pessoas mais “exigentes” quanto a pilotagem, permitindo aos mais sortudos uma escolha de garagem bem mais plural do que antigamente.
E você, de que lado está? Prefere um carro com mais “percepção”, como uma BMW M3 ou algo puramente “veloz”, como um Nissan GT-R?

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